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O novo episódio do Ponto a Ponto, podcast do Maringá Post produzido em parceria com o V Mark Estúdio, destaca uma das instituições de saúde mais tradicionais do Paraná: a Santa Casa de Maringá. O convidado desta semana é José Pereira, superintendente do hospital, que completa 30 anos de atuação, sendo 24 na gestão do hospital e da operadora de saúde. O episódio já está disponível no canal do Maringá Post no YouTube.
Durante a entrevista conduzida pelo jornalista Ronaldo Nezo, Pereira revisita a trajetória da instituição, analisa o papel dos hospitais filantrópicos no país, comenta a relação entre Santa Casa e poder público, explica o funcionamento do SUS e dos planos de saúde, detalha certificações de qualidade e apresenta os planos de expansão que devem ampliar significativamente a capacidade de atendimento da unidade.
A Santa Casa nasceu em 1954, quando Maringá ainda engatinhava como cidade. Motivados pela carência de serviços de saúde e pela quantidade de trabalhadores rurais que chegavam à região, líderes da Igreja Católica e empresários da época se uniram para criar um hospital voltado às camadas mais vulneráveis da população. A estrutura inicial — um prédio simples de madeira com apenas dez leitos — refletia o espírito de urgência e solidariedade que marcou o início da instituição.
Esse vínculo com a Igreja permanece até hoje. Desde os anos 1970, após um período de crise financeira, a gestão da Santa Casa foi assumida pela Congregação dos Irmãos da Misericórdia de Maria Auxiliadora, ordem alemã com longa experiência em administração hospitalar. Pereira lembra que a congregação esteve presente “desde o primeiro tijolo” e assumiu o compromisso de transformar a Santa Casa em um hospital moderno e referência regional.
“Quando a congregação assumiu, trouxe experiência internacional em gestão hospitalar e se comprometeu a transformar a Santa Casa em um grande hospital”, destaca.
A importância das Santas Casas na saúde brasileira
Ao situar a Santa Casa de Maringá dentro do cenário nacional, Pereira chama atenção para a importância dos hospitais filantrópicos no Brasil. Segundo ele, essas instituições — mais de duas mil Santas Casas e entidades similares — respondem por mais de 50% dos atendimentos do SUS e por mais de 70% dos procedimentos de alta complexidade.
Esse dado revela, segundo o superintendente, a dimensão da parceria entre o setor público e o setor filantrópico, que sustenta parte expressiva da rede hospitalar brasileira.
Da porta de entrada ao leito
Um dos pontos mais esclarecedores do episódio é a explicação sobre o acesso ao SUS. Embora cerca de 60% dos leitos da Santa Casa sejam para atender o sistema público de saúde, o paciente só é internado no hospital após o direcionamento dado pela Central de Leitos.
José Pereira enfatiza que os hospitais já não funcionam como porta aberta — quem organiza o fluxo de pacientes é o próprio poder público, por meio das unidades básicas, UPAs e a Central de Leitos.
“Não existe mais aquela situação de escolher onde ser atendido, cortar fila ou ir ao hospital que atende mais rápido. A Secretaria de Saúde faz o acolhimento e distribui os pacientes conforme especialidade e disponibilidade.”
O superintendente ressalta que o Paraná possui um dos sistemas mais bem estruturados do país, garantindo segurança, rastreabilidade e uso racional dos recursos hospitalares.
Estrutura atual e serviços de referência
Ao falar da dimensão atual da Santa Casa, Pereira destaca que o hospital reúne hoje uma das maiores estruturas de atendimento da região. São 290 leitos distribuídos entre diversas especialidades, nove salas cirúrgicas em operação contínua e uma média mensal de 1.700 internações, 1.000 cirurgias e 400 nascimentos — número que consolida a instituição como a maior maternidade de toda a região.
A Santa Casa também se tornou referência em áreas como neurocirurgia, ortopedia e traumatologia, tratamento de AVC, nefrologia e atendimentos de urgência e emergência, recebendo pacientes de mais de 115 municípios e até de outros estados.
Santa Casa Saúde: o pilar que garantiu sustentabilidade
A entrevista também explica um capítulo decisivo para o crescimento da instituição: a criação da operadora Santa Casa Saúde, em 1995. Antes dela, o hospital atendia cerca de 90% de pacientes via SUS, o que limitava investimentos. A operadora nasceu como estratégia para sustentar e modernizar a estrutura hospitalar.
“Foi uma tacada certeira. O resultado financeiro da operadora é totalmente reinvestido dentro do hospital”, afirma Pereira.
Hoje, a Santa Casa Saúde atende aproximadamente 50 mil beneficiários, reforça a taxa de ocupação, possibilita novos investimentos e amplia a segurança financeira da instituição. Para usuários fora de Maringá, a operadora conta com redes de apoio, como a filantrópica e a ABRANGE, garantindo cobertura de urgência em outras cidades.
Certificações e segurança do paciente
Entre as conquistas recentes, o superintendente destaca a Acreditação Plena da ONA, que reconhece que todos os processos internos seguem protocolos rigorosos de segurança, eficiência e qualidade. A certificação é renovada periodicamente, o que exige comprometimento contínuo da equipe.
“Conquistar é difícil, mas manter é ainda mais. Protocolos de segurança precisam estar ativos todos os dias”, reforça.
A Santa Casa também recebeu, em 2023, o título de Hospital Amigo da Criança, concedido pelo Ministério da Saúde e pelo Governo do Paraná, que reconhece práticas humanizadas no cuidado com mães e bebês, incluindo estímulo ao aleitamento materno e presença contínua do recém-nascido junto à mãe.
Outro tema tratado com transparência é a infecção hospitalar. Pereira lembra que o risco existe em qualquer hospital do mundo, mas que a Santa Casa mantém protocolos rígidos, equipe especializada e práticas de isolamento e prevenção para mitigar ocorrências.
“O hospital é onde pessoas doentes chegam, muitas vezes já infectadas. Nosso trabalho é reduzir ao máximo o risco de transmissão.”
A Santa Casa mantém, há quase 25 anos, uma parceria com a Prefeitura de Maringá para atendimento de gestantes do SUS. A gestante inicia o pré-natal na rede básica e, a partir do sétimo mês, passa a ser acompanhada pela Santa Casa, inclusive com visitas guiadas à maternidade para conhecer salas PPP, estrutura e equipe.
O modelo, segundo Pereira, aumenta a segurança do paciente e ajuda a integrar o atendimento entre rede pública e hospital.
O crescimento da demanda regional levou a instituição a desenvolver um plano diretor robusto. O objetivo é ampliar o hospital dos atuais 290 para 400 leitos, modernizar espaços físicos, ampliar serviços e incorporar novas tecnologias — incluindo soluções em inteligência artificial. “Maringá cresce, a região cresce e nós precisamos crescer juntos”, resume.
A recompensa de 30 anos na Santa Casa
Na parte final do episódio, Pereira reflete sobre sua trajetória na Santa Casa. A voz baixa um pouco, o tom se torna mais pessoal e a fala resume o significado de três décadas de dedicação.
“A gente vê a transformação de um hospital que era de madeira, carente, para uma referência para o Paraná e até para o Brasil. Isso não tem preço. Ver 1.770 colaboradores, 600 médicos e milhares de pessoas passando por ali todos os dias sendo atendidas com humanização… é muito gratificante.”
Ele agradece idealizadores, colaboradores antigos e atuais e reforça que a missão social da instituição permanece intacta após sete décadas.
Episódio completo disponível no YouTube





