Por Wilame Prado
O vento soprou firmemente naquela noite e até pareceu levar um pouco daquele aperto no peito. Bateu no peito a brisa e ele muito desejou que aquilo pudesse ser espécie de cura para a dor que fazia morada em sua alma. Mas é claro que não era.
O banco estava vazio, mas se fez imaginativo a ponto de projetar a imagem do pai sentado e olhando para ele em um tom de análise, de admiração até, mas as rugas da testa estavam ainda mais sobressalentes, como que dizendo: “ando preocupado com você, meu filho.”
Num ímpeto, o filho soltou a frase mentalmente que costuma dizer para as situações boas e também ruins: “tá tudo bem”. Mas é claro que não estava.
A vida não nos presenteia com mestres da sabedoria como nos filmes de karatê ou livros da filosofia antiga. Não há gente disposta a dar conselhos gratuitos, generosos e construtivos. Não há amigos, irmãos ou anjos que apontem a direção certa. É cada um por si.
Portanto, a silhueta de um pai sentado naquele banco tratava-se apenas de exercício mental fútil, nostálgico e bobo. Ou os mortos por acaso habitam por aí bancos vazios em meio à ventania de mais uma noite cheia de vazio no caos que é viver o existencialismo de tanto sentir e absolutamente nada estar conforme o planejado mentalmente?
O que há do outro lado da ponte só se descobre percorrendo-a, de ponta a ponta. A mata é fechada, muitas vezes. Desbravar o viver é tatear no escuro sem saber onde fica o interruptor. O alívio da luz e a calmaria vinda com o cessar da escuridão é privilégio para poucos. Quando se vive só, não é possível dizer frases infantis do tipo “tenho medo do escuro” ou “acende a luz, pai!”
Ele queria tanto, porém, que aquele exercício de imaginar fosse real! Um pai sentado no banco como um legítimo espectador da vida do filho e tendo o controle remoto na mão, a batuta da orquestra, a direção de um veículo que possui apenas acelerador, nunca freio de mão ou correções de rotas após se ver perdido no meio do caminho. Na vida, o GPS sempre enlouquece.
Dá vontade de rezar, clamando por atos insanos: ver um pai que já se foi sentado no banco e gesticulando, apontando, direcionando e dizendo “vai por aqui, vai por ali, evita isso daqui”. E ainda tem gente que reclama de pai que se mete na vida do filho. Só quem não tem com quem se aconselhar sabe do terror que é caminhar no escuro, sem referência, sem norte, sem um sermão feito com carinho, dor e uma vontade imensa de ajudar o filho a não errar.
O vento cessou. O banco seguiu vazio. Como sempre. Como em todas as noites. Afinal, será sempre noite. O filho resolve proteger-se do frio dentro de casa. Ninguém nunca soprou a resposta certa, a direção menos dolorosa. Tentando até dormir, sabia que mais uma vez não sonharia com o pai. Ele jamais voltou.





