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Por Caio Henrique Lopes Ramiro
Em primeiro lugar, importa considerar a retomada da temática antifascista, a fim de apresentar o esforço vital de alguns intelectuais que se colocaram na perspectiva de uma radicalidade existencial de combate a esta ideologia. Tratamos neste espaço de algumas importantes contribuições de pensadores estrangeiros.
No presente texto, buscaremos a inspiração em Maurício Tragtenberg. Tragtenberg tem uma trajetória de vida dedicada as ciências humanas e bastante curiosa, pois era um autodidata que se tornou professor universitário na Universidade Estadual Paulista (UNESP) e, posteriormente, na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Para Antônio Candido, expoente do que se convencionou chamar de tradição crítica brasileira, Tragtenberg era um exemplar de intelectual não só pelo conhecimento, mas, também, pela energia mental e ânimo combativo enfeixado pelo sentimento de liberdade.
Maurício Tragtenberg tinha no horizonte a ideia de uma atuação intelectual que alinhava coerência teórica e prática social. Nesta óptica, o fascismo se tornou um alvo de seu acurado exame e crítica, sendo que seu combate ao fascismo se deu onde as práticas de qualquer segmento se apresentassem próximas desta perspectiva.
Em interessante texto publicado em 14/10/1990, na Gazeta de Pinheiros, Tragtenberg afirma a necessidade de barrar a escalada fascista de Paulo Maluf. Trata-se de um comentário ao primeiro turno eleitoral e seu diagnóstico é que há certa apatia e desinteresse da população pelo sistema eleitoral fundado no conceito de representação política.
O interessante é que Tragtenberg afirma que é possível reconhecer a vitória de candidatos a governador que no momento se apresentam atrelados ao neoliberalismo vinculado à direita mundial, contudo, são personagens que operaram como biônicos nos sombrios tempos da ditadura civil-militar, todavia, naquele momento (1990) ninguém mais era fascista!
Todos se apresentavam como de centro, no entanto, trata-se apenas e tão somente de um regime de coronéis urbanos que se apoia no coronelismo rural. O embate paulista naquela quadra da história se deu entre Paulo Maluf e Antônio Fleury Filho.
Para Maurício Tragtenberg este espectro da eleição paulista permitia projetar no país a imagem da Alemanha dos anos de 1930, isto é, uma encruzilhada que fora vivida pelos trabalhadores alemães, quando a sombra de Adolf Hitler se projetou no horizonte em 1933.
A crítica de Tragtenberg é dirigida as forças chamadas progressistas, que deveriam cuidar para não incorrerem nas divisões e rachas ocorridos na social-democracia alemã, a fim de que não fosse pavimentado o caminho para a perdição ditatorial e o longo inverno que 60 anos antes desceu sobre a Europa, bem como, pelo qual o Brasil acabou de fazer sua travessia.
Assim, Maurício Tragtenberg chama a atenção para o fato de que o voto em branco e nulo beneficiaria o malufismo. Paulo Maluf é um filhote da ditadura civil-militar e, de acordo com Tragtenberg, simpatizante da Falange Cristã Libanesa, grupo treinado pelos nazistas e que participou de ataques aos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila.
Logo, não se trata de dedicar um voto inocente ao candidato do PMDB, pois com este último a vida continuará sendo uma luta para os assalariados, todavia, em condições algo menos fascistas. No final do texto, Tragtenberg chama ao debate os dirigentes do PSDB, lembrando da frase de um velho líder revolucionário que dizia “contra o fascismo me uniria até com o diabo”.
Por aqui, Tragtenberg nos ajuda a perceber, no nosso tempo de agora, que quando o inimigo é o fascismo, não há escolhas difíceis.