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Os gastos públicos e seus impactos sobre a taxa Selic foram debatidos, nesta quinta-feira (15), em uma mesa redonda promovida pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), em parceria com a Gazeta do Povo.
O encontro reuniu o ex-presidente da República, Michel Temer, o economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, e o presidente do Conselho Superior do Movimento Brasil Competitivo (MBC), Jorge Gerdau Johannpeter.
Para os especialistas, o equilíbrio fiscal do governo é um fator essencial para permitir uma política de juros mais estável e condizente com a necessidade do setor produtivo brasileiro.
Durante o evento, mediado pela jornalista Thais Herédia, os especialistas debateram como o descontrole dos gastos públicos aumenta a necessidade de financiamento do Estado brasileiro, influenciando diretamente na taxa básica de juros. Além disso, analisaram como uma Selic elevada dificulta o acesso ao crédito para investimentos produtivos.
Ao abrir o evento, o presidente do Sistema Fiep, Edson Vasconcelos, destacou a importância do tema para o setor produtivo. “O crédito dá oxigênio para as operações de nossas indústrias e é fundamental para garantir investimentos, inclusive para melhorar a capacidade tecnológica do nosso parque fabril”, disse. “Promovemos esta mesa redonda para realizar uma discussão técnica sobre a taxa Selic, pois vemos hoje um debate muito ideológico e repleto de polarização sobre o tema. O país precisa encontrar caminhos para que tenhamos uma taxa de juros que impulsione a competitividade da indústria brasileira”, completou.
A mesa redonda na íntegra está disponível no Canal da Indústria do Sistema Fiep:
Custo do capital
Para demonstrar o impacto do custo do capital sobre a economia brasileira, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter apresentou dados de um estudo do MBC que calculou o tamanho do Custo Brasil.
Anualmente, o setor produtivo brasileiro gasta cerca de R$ 1,7 trilhão a mais do os de países desenvolvidos para executar suas atividades, o que correspondia a 19,5% do PIB brasileiro em 2021.
O custo para financiar os negócios respondem por um valor entre R$ 220 bilhões e R$ 260 bilhões o montante total, incluindo fatores como a oferta de capital, o custo do crédito e o risco-país.
“O custo do dinheiro tem que ser gerido com cuidado enorme em uma atividade empresarial no Brasil”, disse Gerdau. “Os juros que nós pagamos são um limitador enorme na competitividade do país. E quanto menor a empresa, mais caro é o crédito. Sem pressão empresarial e política, esses números não irão se corrigir”, acrescentou.
Pressão política
O ex-presidente Michel Temer também destacou que a pressão sobre a classe política é fundamental para que se criem políticas de longo prazo que apontem para uma queda permanente da taxa de juros. “A classe política precisa ser mobilizada. No instante que as federações de indústrias se manifestam, isso mobiliza o Congresso, que é muito sensível às reações populares”, afirmou.
Temer citou iniciativas como o teto de gastos, implantado por seu governo, como estratégias para dar mais previsibilidade à questão fiscal e à economia como um todo. “Agora ainda existe o teto, chama-se arcabouço fiscal, mas que permite aumento de até 2,5% da receita líquida. Isso é importante para evitar o gasto público, e se você reduz o gasto público, a tendência é reduzir a dívida pública, o que é fundamental para o país”, declarou. Além disso, pontuou algumas questões que são importantes para a redução do Custo Brasil como um todo. “A Reforma Administrativa é uma coisa sempre pensada. Agora você veio com a Reforma Tributária, mas é muito difícil reduzir os tributos neste momento, se não reduzir a máquina pública”, completou.
Maior entendimento
Para Mansueto Almeida, a sociedade brasileira já vem demonstrando maior compreensão sobre a relação entre gastos públicos e taxa de juros. “E um debate como este na Federação das Indústrias do Paraná é muito importante, ajuda todos a entenderem quais são os desafios e problemas do Brasil”, afirmou.
Em sua opinião, não existe caminho para que se alcancem taxas mais baixas sem a busca por maior equilíbrio fiscal. “Se a gente quer taxas de juros mais baixas, não apenas a taxa de juros do Banco Central, mas a taxa de juros de longo prazo, nós temos que mostrar que conseguiremos fazer o ajuste fiscal e que a dívida do Brasil, em algum momento nos próximos anos, começará a cair”, explicou. “Para a gente ter a clareza de que a dívida vai cair e o Estado será responsável, são necessárias algumas reformas adicionais, mas é isso que nos trará taxas de juros permanentemente mais baixas. E é por meio do debate que a gente vai conseguir fazer um ajuste fiscal duradouro, que vai nos levar a ter uma taxa de juros mais baixa”, acrescentou.